Não tenho dúvidas, tô dando mais atenção ao ocorrido do que ele deveria ter, poderia ser como as outras críticas que recebo e simplesmente ignoro.
O lance foi o seguinte. Na manhã que publiquei a charge acima, abro minha caixa de e-mail e me deparo com a seguinte mensagem:
“Oi, Mister Brum! Já que você se acha muito engraçado fazendo estas charges, com os sacramentos da Igreja Católica, aproveita e faz uma com os Islâmicos. Faz, gostaria de vê se você tem coragem! Isso é blasfêmia! A partir de hoje, não leio mais esta página da TN. Talvez, outras pessoas que ficaram indignadas estejam dizendo a mesma coisa. P.S. Com cópia ao redator.”
Primeiro quero dizer que não estou escrevendo isso como um ataque pessoal ao autor do e-mail (tanto que preservei o seu nome), é a opinião dele, o respondi com a minha e ponto final, cada um na sua. Mas a questão não é ESSA crítica, e sim o que tá por trás dela. Gente, o mundo tá um saco, parece aquela tia solteirona no auge da menopausa e ranhetice. A vontade, as vezes, é sair mandando todo mundo à merda (isso porque fui muito bem educado).
Em época de redes sociais, todos se acham donos da verdade. A necessidade de bater de frente com alguma coisa diariamente, acaba cegando as pessoas. Claro que sei que existem chargistas, humoristas e outros istas que passam dos limites e acabam desrespeitando a crença dos outros. Mas cara, isso não é sempre! Não é porque alguém desenhou um padre ou a imagem de Jesus que quer dizer que ele está desrespeitando alguma coisa? A cegueira é tanta, que as pessoas acabam se igualando à alguns (ALGUNS) extremistas Islâmicos, tão criticados por estes mesmos que estão tendo esta atitude, onde o simples fato de citar Maomé já é motivo pra uma bomba. Será que o povo não sabe que a intolerância também vai contra os princípios das religiões? Ou isso só é aplicado quando convém? Tá mais ou menos assim: hoje criticamos uma coisa e amanhã nos transformamos nesta mesma coisa só pra ter o prazer de criticar uma pessoa que é contra aquilo.
Sou um cara que pensa rápido demais, mas nem sempre penso certo, então, sei a merda que é abir a boca e sair falando o que a cuca manda, sem raciocinar antes. Bora pensar antes de transformar as caixas de e-mail ou redes-sociais em penico. O e-mail, assim como outras mensagens que já recebi é de uma pessoa defendendo os dogmas de sua religião, e ele tem esse direito, isso é fato. Mas o interessante é que a pessoa me chama de engraçadinho mas já começa me chamando de “mister” debochadamente. Ou seja, somos todos engraçadinhos! Blasfemamos juntos! Mas uma charge não é feita para ser engraçadinha, ela até usa o humor, mas com um objetivo maior, que é o de despertar um pensamento crítico no leitor. Então basta entender um pouquinho só da história de Cuba e de Fidel, pra ter a certeza que ser humorista nesta charge nunca esteve em primeiro plano.
Aí depois, numa tentativa de defender sua crença, ele me manda atacar a crença do outro? Hã? Eu acho que perdi o restante da frase ” amai-vos uns aos outros” onde diz “desde que o outro seja da sua religião”. Quem me dera, se isso fosse uma atitude isolada. Infelizmente não, estamos virando rebatedores de ataques. Hoje em dia é mais fácil mandar as pessoas atacar os outros do que ter um diálogo pra convencer a não atacar mais ninguém. Parece quem cria gato solto, que só quer o bichano na hora de acariciar, mas na hora de fazer merda, vá cagar no quintal do vizinho. Curiosamente, já fiz sim algumas charges com Maomé, aliás, a primeira charge minha publicada tinha os Islâmicos como tema. E hoje, sou amigo de uma pessoa que usa turbante, e a sua reação ao ver tal charge, não foi invadir minha casa soltando uma bomba, e sim um diálogo bacana, com direito a risos, até pedir a charge com Maomé pra usar em palestras ele já me pediu. Ou seja, o considerado extremista foi muito mais compreensivo do que a grande maioria. E outra, fazer uma charge disso ou daquilo, sem ter medo da reação, não faria de mim, nem de outro chargista mais ou menos corajoso, e sim, profissional. Esse é o nosso emprego, estamos aqui pra alfinetar, mesmo algumas partes da sociedade que muita gente por N motivos não cutuca. Mas não uma simples alfinetada, e sim uma alfinetada crítica, fazendo o leitor pensar. Essa é a função do chargista. E nem por isso, somos donos da verdade ou estamos acima disso ou daquilo como muitos erradamente acredita que pensamos. Ser chargista, é ser crítico, é não ter lado definido (talvez momentaneamente devido algumas situações), é saber que usamos o humor e isso pode nos tornar na visão de quem lê meio que preconceituoso com isso ou aquilo, mas como já diziam (acho que foi o Glauco): não existe humor a favor. Mas sabemos também, que damos, diariamente, nossa cara a tapa pra reação dos leitores. Temos que arcar com as consequências. Faz parte do pacote e devemos saber lidar com isso.
E o mais interessantes pra mostrar o porque peguei essa situação pra falar do momento menopausa que vivemos, foram as partes: “Não leio mais esta página” e “Com cópia ao redator (que na verdade era o editor do jornal que trabalho)”. Não basta criticarmos os outros, não basta querermos que as nossas opiniões prevaleçam sem nenhum contestamento contra. TEMOS QUE AMEAÇAR! Temos que mostrar que se a pessoa não abaixar a cabeça pra nossa verdade absoluta algo pode acontecer a ela. Parabéns sociedade, estamos evoluindo mesmo!
Como citei na resposta que dei para o leitor, até mesmo o Papa sabe a diferença entre um bom humor, uma charge e uma blasfêmia. Quem quiser saber mais sobre o que tô falando, segue o link http://guia.uol.com.br/sao-paulo/exposicoes/noticias/2014/03/12/aprovada-por-francisco-exposicao-reune-charges-do-papa-argentino.htm , só deixo a foto acima, explicando a todos que essa risada esta sendo dada ao ver um livro de charges com o Papa (inclusive com charge deste pecador que vos escreve), ou seja a mesma coisa que fiz e fui acusado de blasfêmia. Quem diria, até tu, Chico!
E pra encerrar de vez o assunto, segue um trecho da tal matéria com o Papa, que talvez tenha sido muito esquecido por todos:
“Humor faz bem”, teria dito o papa na ocasião, entre gargalhadas, segundo relato de dom Odilo a Lovetro.
Sim, ilustrei o post com algumas charges que gosto muito onde tem figuras de Papas como foco, procurem vê-las como uma crítica a determinado assunto e não como um ataque a igreja e vejam como é mais bacana pensar do que atacar.
Abração, sucesso e até a próxima postagem.
Brum